quarta-feira, outubro 08, 2008

O Fim do Mundo

Ele queria ver o fim do mundo. Era o seu grande sonho; um sonho que o acompanhou a vida inteira, desde os tempos de criança. Não tinha vergonha, nem medo de o afirmar aos quatro ventos. Quando lhe indagavam o porquê daquilo, simplesmente dizia que seria um grande espetáculo, o maior e mais emocionante de todos, de todos os tempos (as más línguas diziam simplesmente que ele gostava era de ver o circo pegar fogo).
Já tinha passado por muitas coisas ao longo de seus 85 anos de existência, e por algumas vezes pensou estar bem próximo de realizar o seu maior desejo: a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, a invasão da Baía dos Porcos, o buraco na camada de ozônio, o 11 de Setembro, Tsunami... Mas continuava tudo como sempre esteve: o planeta Terra caminhando para uma destruição lenta e gradual - coisa para algumas centenas de anos ainda.
Até que um dia, o fim do mundo chegou, assim de repente e sem ser anunciado. Do box de seu banheiro, onde tomava uma ducha fria, ouviu os primeiros gritos de dor e desespero: "Socorro!", "É o fim dos tempos", "É o fim do mundo"... Seu coração acelerou, suas pupilas dilataram, os poucos pelos de seus braços se arrepiaram - ele sabia, a hora era aquela, seu grande sonho seria realizado. Não fechou a torneira - que importa economizar água agora?; Não tirou o xampú dos cabelos - e daí se estou ridículo?; Não se enrolou na toalha - quem vai reparar na minha nudez com o chão se abrindo e as bolas de fogo caindo do céu?
Com a agilidade de outros tempos, saltou para fora da banheira. Mas escorregou no piso molhado e bateu a cabeça com toda força no chão. Enquanto a vida lhe esvaía junto com o sangue, ouviu aquelas que seriam suas últimas palavras: "João, abaixa a merda da televisão!"

3 comentários:

Anônimo disse...

Gosto muito do quê, sobre o quê, e como escreve.
Sempre gostei!
Agrada-me, muito, ouvi-lo; não importa sobre o quê.
Entusiasma-me saber que há uma nova peça escrita.
Emociona-me assistir suas peças, por vários motivos ... alguns não identifiquei bem ... ainda; mas, certamente, o sentimento de orgulho está presente... sempre.
Impressionou-me lê-lo tão políticamente correto ultimamente.
Parabéns pelo conjunto: OBRA, PESSOA E FAMÍLIA.

Anônimo disse...

Anônimo disse...
Gosto muito do quê, sobre o quê, e como escreve.
Sempre gostei!
Agrada-me, muito, ouvi-lo; não importa sobre o quê.
Entusiasma-me saber que há uma nova peça escrita.
Emociona-me assistir suas peças, por vários motivos ... alguns não identifiquei bem ... ainda; mas, certamente, o sentimento de orgulho está presente... sempre.
Impressionou-me lê-lo tão políticamente correto ultimamente.
Parabéns pelo conjunto: OBRA, PESSOA E FAMÍLIA.

3:52 PM

Jullio Cesa disse...

Seu texto é muito bom. Interessante essa visão que as pessoas fazem do fim delas mesmas e do mundo. Como se os dois fins tivessem alguma relação!
Jullio Cesa