terça-feira, junho 26, 2007

O furo quase imperceptível

Hoje de manhã, o pneu da frente da minha bicicleta estava vazio. Fui até o borracheiro e o enchi, mas sei que ele está furado, porque não é a primeira vez que isso acontece. Deve ser um furo bem pequeno, quase imperceptível, porque depois de cheio o pneu funciona durante um dia inteiro como se estivesse em perfeitas condições. Amanhã, quando eu for sair com a bicicleta, o pneu estará vazio novamente e novamente terei que levá-lo para encher.
Consertar um furo como esse deve custar, no máximo, uns cinco reais. E o borracheiro deve levar, no máximo, quinze minutos para fazê-lo. O problema é que sempre tiro a bicicleta da garagem para chegar, com alguma urgência, em um compromisso qualquer e não me é possível fazer o conserto do pneu nesse momento, tenho tempo apenas para enchê-lo. Quando volto do compromisso, como está tudo bem com a bicicleta, nem me lembro que o pneu está com o tal furo quase imperceptível e, assim, levo a bicicleta direto para a garagem - pode acontecer, também, que, voltando do compromisso, eu me lembre do furo, sim, mas a vontade de voltar logo pra casa é tão grande e a preguiça é tão grande, que deixo para depois uma tarefa inevitável (e, em alguma hora, não mais adiável).

segunda-feira, junho 25, 2007

Sã vaidade

Uma mulher que sai de casa a uma da manhã, porque brigou com o marido (sai para beber, embora ambos tivessem acabado de chegar um tanto quanto alterados de álcool). Um marido que não consegue dormir, preocupado (preocupação tardia, posterior ao que deveria ter feito, ou seja, impedido a mulher de sair) e que sai de casa, quase às três da manhã, pra procurar a mulher.
Os dois se encontram numa rua qualquer, escura e deserta, ela carregada por um outro homem, quase não se agüenta em pé (no dia seguinte vai dizer que nunca bebeu tanto na vida).
O marido a toma nos braços como se ela fosse um bastão que os atletas de revezamento 4x100 usam. Só lhe resta apertar a mão do outro homem e agradecer, apesar de estar mesmo é desconfiado da gentileza do distinto cavalheiro.
No meio do tumulto - palavras, muitas palavras são proferidas - o marido percebe o batom que sua mulher traz na mão: bêbada, sim, ele pensa, mas não louca, porque conservou a vaidade.