domingo, outubro 05, 2008

Folhas secas

Em qualquer rua, de qualquer bairro, em qualquer hora do dia ou da noite, as casas antigadas são o que mais me atraem. Os casarões sobretudo. Gosto de ver um casarão ainda habitado, mas não muito bem conservado, com paredes descascando, mesas e cadeiras de metal escuro e folhas secas espalhadas por toda a área externa. Dá um alívio; como se ali, pelo menos ali, o tempo corresse mais devagar. Por que a pressa? é o que me pergunto nesse momento.
As janelas estão fechadas e são de madeira envelhecida; os lustres são de ferro e vidro igualmente velhos (dentro uma lâmpada de 40 watts acesa dia e noite, não fazendo a menor diferença quanto a iluminação, mas acrescentando uma nota poética ao conjunto da obra). Não há movimentação, nem de gente, nem de animais domésticos, mas sabe-se que a residência é habitada. O que fazem essas pessoas? Do que vivem? Serão descendentes de tradicionais e aristocráticas famílias soterradas por dívidas? Como será por dentro?
Móveis antigos, de madeira escura; quadros de pintores mineiros espalhados pelos amplos cômodos; torneiras de bronze em forma de cisne (por exemplo); banheira nos dois banheiros principais, cujo chão é de azulejos pretos e brancos como um tabuleiro de xadrez; lavabos, bidês, espelhos grandes e pesados, com cantos arredondados; esculturas em madeira, plantas, muitos e variados abajures, pisos de tábua corrida e tacos, portas ovaladas, lustres de cristal com muitas lâmpadas, cristaleira com taças, porcelanas e prataria.
Um velhíssimo senhor ainda serve àquela família; um senhor negro que cresceu na casa, descendente dos primeiros criados, dos últimos escravos.
Agora me vem uma agonia, por pensar que ali o tempo corre muito devagar.

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