terça-feira, julho 29, 2008

Essa é do meu querido irmão

Será que ela vai entender isso? Eu acho que seria demais.

-Viveremos muito, diz ela o tempo todo. Questões óbvias do Mundo? Nem pensar!
Aquecimento global, violência, falta de alimento...tá na cara que estamos na maior das merdas, mas isso não vai acontecer conosco, afinal, somos um casal feliz e queremos um filho nosso. Amamos os nossos agregadinhos, entende? Filho dela com outro, filha minha com outra...somos felizes, sim, mas vou perguntar mesmo assim.

- Amor.
- oi.
- eu estava pensando...
- hum
- acho que vou investir num plano de assistência funeral
- Oquê?! É louco mesmo!
- mas, amor, a gente não sabe do dia de amanhã...
- Cara, é muito absurdo...
- mas são só R$ 2,00 por dependente...

Faço uma pausa quando noto a cara de louca possuída que seria lindo se fosse num ato sexual, entende? Violência mesmo! Acaba comigo! Vai, seu cachorro! Hummm....

- você acha que vou viver pra sempre? Pensa no perrengue que será se acontencer...
- CHEGA! Quer fazer algo de bom? Faz um plano de saúde e não um de morte, merda! Vai escolher cor de caixão, flores amarelas ou brancas, com vidro pra mostrar o rosto ou sem vidro? Quer saber de uma coisa? Vou tomar meu banho.

Naquele momento pensei na minha posição de homem da casa e, dias depois, fiz um plano de saúde pra mim. Caro pra mim, cobria algumas coisas legais tipo enfermaria. Legal, se eu me fuder fico com no máximo mais 3 fudidos do meu lado. Boa!!!
Meses se passaram e somos um casal lindo de novo.
Toca o telefone da minha casa.

- Alô
- Boa noite, senhor...o senhor conheço a senhora Sônia Albuquerque de Alcântara? Meu Deus!...ele disse o nome completo...(boca seca)...tomara que seja dívida...
- si, sim...conheço, por que?
- Olha, senhor...ela se envolveu num acidente grave...algumas pessoas foram atropeladas...inclusive ela e...bom...ela não resistiu, senhor. Infelizmente veio a óbito.

Enquanto ele me dava as informações, eu ia sentindo um fade out em meu ouvido, comecei a não ouvi-lo mais...sentei depois que anotei tudo, desliguei o telefone de leve em sua cara e nem chorei. Fiquei ali uns minutos, levantei e saí.

Total do enterro: R$ 2,000.00. Claro que não tinha esse dinheiro sobrando, claro que tive que cancelar meu plano de saúde com enfermaria e pedir dinheiro emprestado.

- Amor?
- sim, sou eu
- o que houve...
- calma...não fala nada agora. Vem comigo
- pra onde? Como?...
- Você agora está bem, meu amor e comigo
- O quê?! Peraí...e as crianças? O que é isso! Aquele sou eu no chão!

Ah, o amor...lindo e, agora sim, duradouro mesmo. O egoísmo e a loucura ficaram lá, com nossos filhos e nossos pais brigando e querendo achar culpados. Ah, que se dane tudo. Decidam no tapa: plano de saúde ou plano de morte?

Marcelo Daguerre

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