terça-feira, outubro 21, 2008

O fácil é o certo

"O fácil é o certo" é o título de uma música dos Titãs (álbum "Tudo ao mesmo tempo agora"); mas é também, se não me engano, uma frase atribuída a Confúcio, o sábio chinês. Desde que a ouvi pela primeira vez - não lembro agora se pela música dos Titãs, ou folheando uma enciclopédia sobre grandes pensadores da humanidade que minha mãe guardava com muito zelo - esta frase nunca mais parou de frequentar minha cabeça. O caminho certo a seguir é o mais fácil? É isso?
Hoje de manhã, queria entrar numa loja do outro lado da rua e resolvi atravessar de onde eu estava mesmo, ao invés de ter que caminhar até o sinal para atravessar e andar tudo de novo. A loja estava bem na minha frente, não fazia sentido caminhar tanto, se eu podia chegar até lá cumprindo uma linha reta ("uma reta é o caminho mais rápido entre dois pontos"). Entretanto, mesmo quando o sinal fechava, eu não conseguia cruzar a rua, porque os carros continuavam vindo e o tempo do sinal não era suficiente para que eles parassem totalmente. Depois de alguns minutos de inútil espera, decidi caminhar e atravessar na faixa, que é o certo. E foi então que a frase voltou à minha mente como um estalo, uma revelação: fazer o certo torna as coisas mais fáceis.

quarta-feira, outubro 08, 2008

O Fim do Mundo

Ele queria ver o fim do mundo. Era o seu grande sonho; um sonho que o acompanhou a vida inteira, desde os tempos de criança. Não tinha vergonha, nem medo de o afirmar aos quatro ventos. Quando lhe indagavam o porquê daquilo, simplesmente dizia que seria um grande espetáculo, o maior e mais emocionante de todos, de todos os tempos (as más línguas diziam simplesmente que ele gostava era de ver o circo pegar fogo).
Já tinha passado por muitas coisas ao longo de seus 85 anos de existência, e por algumas vezes pensou estar bem próximo de realizar o seu maior desejo: a Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria, a invasão da Baía dos Porcos, o buraco na camada de ozônio, o 11 de Setembro, Tsunami... Mas continuava tudo como sempre esteve: o planeta Terra caminhando para uma destruição lenta e gradual - coisa para algumas centenas de anos ainda.
Até que um dia, o fim do mundo chegou, assim de repente e sem ser anunciado. Do box de seu banheiro, onde tomava uma ducha fria, ouviu os primeiros gritos de dor e desespero: "Socorro!", "É o fim dos tempos", "É o fim do mundo"... Seu coração acelerou, suas pupilas dilataram, os poucos pelos de seus braços se arrepiaram - ele sabia, a hora era aquela, seu grande sonho seria realizado. Não fechou a torneira - que importa economizar água agora?; Não tirou o xampú dos cabelos - e daí se estou ridículo?; Não se enrolou na toalha - quem vai reparar na minha nudez com o chão se abrindo e as bolas de fogo caindo do céu?
Com a agilidade de outros tempos, saltou para fora da banheira. Mas escorregou no piso molhado e bateu a cabeça com toda força no chão. Enquanto a vida lhe esvaía junto com o sangue, ouviu aquelas que seriam suas últimas palavras: "João, abaixa a merda da televisão!"

segunda-feira, outubro 06, 2008

Folhas Secas - II

Hoje não tem nem café. Não há mais pó e a única caixa de fósforos da casa está molhada no banheiro, perto do gás. Acordar o patrão a essa hora da manhã é inútil, ele nunca se levanta antes do meio-dia e, provavelmente, não tem nenhum tostão para as compras.
O preto se ergue da cadeira da cozinha com a dificuldade usual da idade, pega o guarda-chuva, pois gotas miúdas salpicam de nuvens carregadas desde a madrugada, e vai até a venda que fica a duas quadras do casarão.
Compra com uns trocados próprios, economizados de outros carnavais, uma caixa de fósforos, um pacote de 250grs do café mais barato e o jornal - do café vai tomar uma xícara, mas do jornal nenhum gole, é analfabeto de pai e mãe.
O patrão acorda, vai até à sala metido em seu robe de chambre, senta-se à mesa do café e encontra o jornal cuidadosamente dobrado ao lado do bule de prata. Ele coloca sobre o colo o guardanapo de linho branco, limpíssimo, bordado com o brasão da família, enquanto serve-se do líquido negro e fumegante. Reclama do gosto do café, pergunta pelo pão, mas fica muito satisfeito com sua foto na coluna social, em que aparece cumprimentando a esposa do governador por ocasião de seu aniversário.

domingo, outubro 05, 2008

Folhas secas

Em qualquer rua, de qualquer bairro, em qualquer hora do dia ou da noite, as casas antigadas são o que mais me atraem. Os casarões sobretudo. Gosto de ver um casarão ainda habitado, mas não muito bem conservado, com paredes descascando, mesas e cadeiras de metal escuro e folhas secas espalhadas por toda a área externa. Dá um alívio; como se ali, pelo menos ali, o tempo corresse mais devagar. Por que a pressa? é o que me pergunto nesse momento.
As janelas estão fechadas e são de madeira envelhecida; os lustres são de ferro e vidro igualmente velhos (dentro uma lâmpada de 40 watts acesa dia e noite, não fazendo a menor diferença quanto a iluminação, mas acrescentando uma nota poética ao conjunto da obra). Não há movimentação, nem de gente, nem de animais domésticos, mas sabe-se que a residência é habitada. O que fazem essas pessoas? Do que vivem? Serão descendentes de tradicionais e aristocráticas famílias soterradas por dívidas? Como será por dentro?
Móveis antigos, de madeira escura; quadros de pintores mineiros espalhados pelos amplos cômodos; torneiras de bronze em forma de cisne (por exemplo); banheira nos dois banheiros principais, cujo chão é de azulejos pretos e brancos como um tabuleiro de xadrez; lavabos, bidês, espelhos grandes e pesados, com cantos arredondados; esculturas em madeira, plantas, muitos e variados abajures, pisos de tábua corrida e tacos, portas ovaladas, lustres de cristal com muitas lâmpadas, cristaleira com taças, porcelanas e prataria.
Um velhíssimo senhor ainda serve àquela família; um senhor negro que cresceu na casa, descendente dos primeiros criados, dos últimos escravos.
Agora me vem uma agonia, por pensar que ali o tempo corre muito devagar.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Anãologias

"Sou um poeta menor", disse-me uma vez um anão afro-descendente que eu conheci no balcão de um bar (eu estava escrevendo uma letra de música num guardanado de papel). Em seguida, o anão afro-descendente tirou uma moeda da minha orelha e falou: "Tá vendo! E tem gente que não acredita em magia negra".
Demorei alguns segundos para entender o que estava acontecendo, mas gostei do cara. Ofereci a ele uma bebida e perguntei se ele não gostaria de formar uma dupla cômica. Ele aceitou a bebida, mas não a oferta de parceria artística. "Você não me parece alguém à altura do meu talento", disse o sujeito, saltando do banco do bar e levando embora o pratinho de amendoins.

Papel de pão (o título anterior era Só por hoje)

Estou cansado de analogias e metáforas. Hoje. Assim como estou cansado de piadas de trocadilhos. Hoje.
Só por hoje, vou dizer pedra; cachorro; xícara; ônibus; bicicleta; cartas; papel de pão...

... Daí que papel de pão é uma conjunto de palavras bonito demais. E me faz parar de digitar para suspender a cabeça, erguer os olhos e lembrar... "papel de pão"... Ainda existem os sacos de papel, mas eu nunca mais comprei uma bisnaga, devidadmente enrolada num papel rosa e amarrada com barbante. Talvez em Paris - onde minha saudade mora no futuro - se compre baguetes que venham embrulhadas desse modo - Não, não! Agora lembro que me disseram um dia - quem mesmo? - que em Paris as baguetes são carregadas sem embrulho nenhum, embaixo do braço; e que algumas pessoas têm um carregador de baguetes próprio (não confiem nessa informação, realmente não sei de sua origem, talvez seja pura invenção).
Quase todo final de tarde, minha mãe catava os centávos e me mandava à padaria buscar o pão do lanche, que às vezes era bisnaga, enrolada em papel de pão. Quase sempre, a bisnaga chegava sem o bico, devorado, ainda pelando de quente, no meio do caminho.

... Papel de pão é poesia fácil; rasteira de tão óbvia ("Estava escrito num papel de pão / Foi o que arrasou meu coração").

...Papel de pão arrasou com meu dia. Amanhã começo minha dieta de metáforas e analogias (cheguei ao fundo do poço: rimei (de novo!)). Tanto que o título da postagem mudou no meio do caminho.

quarta-feira, outubro 01, 2008

JORNAL BOAS NOVAS (ANO I - No3)

Pesquisando na internet, achei algumas informações sobre o Eid el Fitr: trata-se de um festival que marca o fim do mês do Ramadã. E o que é o Ramadã? Abaixo, uma explicação exuta e esclarecedora:


PAULO DANIEL FARAH
da Folha de S.Paulo

Entre as principais comemorações do calendário lunar islâmico, destaca-se o Ramadã, mês sagrado em que, segundo a tradição, o profeta Maomé, fundador do islamismo, recebeu a primeira revelação divina.

Em 610 d.C., Maomé meditava quando o arcanjo Gabriel apareceu diante dele e começou a transmitir-lhe o Alcorão (livro sagrado).

Nesse período, os muçulmanos não comem, não bebem e adotam a abstinência sexual da alvorada ao pôr-do-sol. Em seguida, vão para a mesquita ou quebram o jejum em casa.

Jejuar no Ramadã é um dos cinco pilares fundamentais do islã. Os outros são: testemunhar que "não há deus senão Deus, e Maomé é o mensageiro de Deus"; orar cinco vezes ao dia em direção a Meca, berço do islamismo, na Arábia Saudita; pagar um tributo que corresponde a 2,5% da renda anual do muçulmano para caridade; e fazer uma peregrinação (Hajj) a Meca pelo menos uma vez na vida, para aqueles que têm condições físicas e financeiras.

Há mais de 1,3 bilhão de muçulmanos no mundo. No Brasil, são cerca de 1,5 milhão, segundo a Federação Islâmica Brasileira.