terça-feira, abril 29, 2008

O Gato

Dormia um sono profundo quando sentiu uma pequena presença, quente e roliça, aninhada nas dobras de suas pernas (dormia solitariamente em conchinha). Não se assustou com aquilo, o que era uma novidade, pois costumava se sobressaltar com a própria sombra. Teve até o cuidado de levantar devagar para não machucar o que quer que fosse aquele... ser. No breu do quarto completamente vedado (porta fechada e janela com quebra-luz), pode ver apenas os olhos brilhantes do animal. Sim, um animal... Um gato.
Não tinha gatos, não podia tê-los: era alérgica a pelos, fumaça, poeira, pólen... Mas além de não ter sentido medo, não sentiu também nenhum mal-estar com a felina presença.
Será que tinha leite em casa, pensou preocupada. Mas o gato já tinha baixado novamente a cabeça junto às patas dianteiras e fechado os olhos em tranqüilo repouso. Da mesma forma, ela escorreu suas costas da parede para a cama e voltou a cobrir-se. Rapidamente teve a sensação de estar sendo tomada pelo inconsciente, o que lhe causou imenso prazer. Ainda teve tempo de pensar que aquela era a primeira noite, desde sua separação, que conseguia dormia de verdade. A primeira vez que não lhe incomodava o fato de estar absolutamente só consigo mesma.