terça-feira, janeiro 29, 2008

O quadro

A primeira vez que entrei no apartamento dela, fiquei encantado com um quadro muito colorido que decorava a sala, pendurado sobre o sofá branco. A cor predominante é o vermelho, mas destacam-se o amarelo, o laranja e o rosa. O único objeto representado é um carro antigo, anos 50, que está em movimento acionado pelas cores que o compõem - todo o quadro está em movimento provocado pela explosão de cores e a massa de tinta em palhetadas ondulantes. Acertei de imediato que se tratava de uma pintura de Rubens Gerchman, porque sempre o admirei e me deleitei com seu estilo de poética Pop (retirei o quadro da parede e vi a assinatura do pintor na parte de trás).

Rubens Gerchman faleceu às seis horas da manhã de hoje, coincidindo com outra pequena-grande-particular perda.

Origami

Estou com um bebê no colo – um menino rosado e lourinho –, olhando pela janela de um apartamento que fica num andar muito alto. Ao meu lado, minha mãe. O bebê sai do meu colo para brincar no parapeito da janela e cai. Desesperado, consigo agarrar o bebê pela roupa; olho para minha mãe e peço ajuda, mas ela simplesmente não se mexe. Consigo salvar a criança e vou com ele ao chão, abraçando-a com firmeza e cuidado, acariciando sua cabecinha, olhando bem nos seus olhos e dizendo: “Está tudo bem, está tudo bem”. Pergunto a minha mãe por que ela não me ajudou, mas, sem dizer uma palavra, compreendo qual a sua intenção: fazer o bebê perceber que parapeito não é lugar para se brincar.

Agora estou num espaço aberto, um campo, perfeito para piqueniques. Estão presentes, além de minha mãe, meu irmão Marcelo – mais novo do que ele é hoje em dia –, minhas irmãs, Mônica e Liana, e Edson, marido de Mônica. Edson e eu estamos brincando com uma gaivota que ele fez para mim. Há também um carro branco, que pertence a Edson, com dois origamis em forma de pássaro presos na lateral do carro: um rosa, de Mônica, e outro feito de jornal, de Edson. Este último parece estar meio rasgado e emendado com fita durex. Num dado momento, a gaivota pára longe, perto do bebê, que está começando a aprender a andar. Há um cachorro por perto, que parece pertencer a algum de nós. Mostro para meu irmão que vou fazer com que o cachorro pegue a gaivota para mim e lhe dou uma ordem: “Pega”. Mas o cão entende que é para avançar no bebê e rosna para ele. Consigo fazer o animal entender que não é para machucar a criança, tanto que em seguida aparece um outro cachorro ameaçando o pequenino e o nosso cão lhe morde a perna.